TORCEDOR SOFREDOR
O torcedor de um clube de futebol é
um cidadão comum que, levando em conta uma cidade, um bairro, um país ou por
influências diversas, se fixa como apaixonado por determinado time. Existem
torcedores moderados e os fanáticos, que até arriscam suas vidas em brigas
dentro e fora dos estádios. Será que atualmente vale a pena todos os sacrifícios
por que passam os torcedores, pagando ingresso caro, horas no trânsito, sujeito
a lesões por brigas, passando sede e fome e muitas vezes no final ver uma
partida ruim com placar de zero a zero?
Parece-me que não...
Para piorar, foi legalizada a
modalidade de futebol empresa, criado pela Lei 14.193/2021, em que os clubes de
futebol brasileiros passaram a ter a opção de se converterem em empresas, as chamadas
Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs). A meu ver, fica difícil manter-se fiel
torcedor a um clube que tem um dono, que visa unicamente seu próprio
enriquecimento. A legislação anterior
previa que todos os clubes fossem classificados como associações civis sem fins
lucrativos. Com a Lei da SAF, como ficou conhecido o texto aprovado, os clubes
que optam por migrar para esse novo modelo se transformam em clube-empresa,
podendo visar o lucro. Alguns dos clubes que já aderiram ao modelo
são Cruzeiro, Vasco da
Gama, Botafogo, América
Mineiro, Bahia, Cuiabá e Coritiba. Além desses, temos ainda o Red Bull Bragantino, que não é uma SAF, mas é um
clube-empresa que recebe investimentos da marca austríaca de bebidas Red Bull. Nas
cinco primeiras ligas da Europa, ou seja, a Inglesa, a Italiana, a Alemã, a
Espanhola e a Francesa, mais de 90% das equipes que disputam a primeira divisão
são clubes empresa.
Este tipo de clube empresa me faria
perder o encanto e paixão, caso ocorresse com meu Palmeiras, fluminense e
Atlético Mineiro. Poderia talvez aceitar o sistema SAF, desde que fosse uma
sociedade anônima bem pulverizada, com milhões de torcedores sendo acionistas,
com diretoria eleita democraticamente. Mas, torcer por um clube de um bilionário
investidor, não aceito. Não vou perder dinheiro e sono para aumentar a fortuna
de um só dono do meu clube, que foi criado e mantido pelos nossos idealistas
antepassados. O vínculo com torcedor pode diminuir e acabar se vingar este tal
de “dono do time”.