DEUS AINDA
EXISTE, POR ENQUANTO
Fernando Thomazi,
em brilhante artigo publicado no jornal O SERRA-NEGRENSE, confronta
religiosidade e ateísmo, separa ética da moral, e faz colocações imperdíveis,
que quero aqui destacar o principal conteúdo. A seguir transcrevo literalmente maior
parte desta sua inspirada obra literária: “...religioso
que estiver lendo esta matéria, que tente perceber junto comigo, nas linhas que
se seguem, e sem querer parecer arrogante ou menosprezar a religião nesse
aspecto, um tipo de "beleza" exclusiva do ateísmo! Antes, terei de
esboçar aqui as linhas gerais de dois importantes conceitos da filosofia
clássica: ética e moral. Ética, numa definição livre minha, é o conjunto de
códigos e valores de um indivíduo voltado a facilitar o convívio em sociedade.
Na ética, ao ser tomada uma decisão, sempre é considerado "quem" essa
decisão irá afetar e como a sociedade reagirá a essa conduta. Moral, por sua
vez, é o conjunto de valores particulares do indivíduo, que independe de Lei,
circuito de câmeras, testemunhas, etc. Em outras palavras, ética é o que se faz
(ou se deixa de fazer) por constrangimento externo, (uma Lei que determina,
pessoas observando, câmeras monitorando, etc) enquanto que moral é o que se faz
(ou se deixa de fazer) por iniciativa pessoal. Para perceber quais são seus
próprios valores morais, basta perguntar-se: o que eu faria se fosse invisível?
Alguns exemplos: ser vegano é um valor moral. Não há Lei que obrigue o vegano a
"não comer carne", por exemplo. Praticamente ninguém irá criticá-lo
se o fizer e, na prática, comer carne é até socialmente aprovado e incentivado
pela imensa maioria. Logo, mesmo tendo total liberdade para isso, mesmo que
ninguém esteja olhando, ou mesmo se ele fosse "invisível", um vegano
escolheria "não comer animais", porque este é um valor
"moral" dele. Porque ao vegano basta-lhe ser o único expectador de
seus próprios atos, sendo "ele" quem terá de conviver com a lembrança
de seus atos pelo resto da vida. Se você homem, (ou lésbica) ao se imaginar
invisível, percebe nesta condição a oportunidade de visitar "vestiários
femininos", então, claramente essa conduta não é um valor
"moral" para você. Pois, é algo que você se permitiria fazer se fosse
"invisível". E se não o faz será por uma mera motivação
"ética" (constrangimento externo, para manter a ordem social).
Esclarecidos esses dois conceitos, veremos agora onde o ateísmo se encaixa
nessa história e onde, de fato, ele é belo. Se você escolhe praticar um ato de
bondade ou deixar de fazer algo prejudicial a terceiros, mesmo que esteja
sozinho, sem ninguém olhando, sem câmeras, "invisível", sem o risco
de ser pego em seguida... Mas, se, apesar de tudo isso, você "acredita em
Deus" (ou alguma entidade espiritual que O equivalha) então, este
"Deus" representa o último "constrangimento" que o impede
de testar plenamente (com 100% de certeza) seus valores morais. Pois, perceba
que, mesmo sem o risco de punição ou gratificação por parte de
"pessoas", você ainda acreditará estar sendo "observado"
por uma "câmera invisível" (Deus) monitorando sua conduta e pronto a
puni-lo ou premiá-lo dependendo do que você fizer. Mas, se você é um ateu na
mesma condição de "invisibilidade", então você terá eliminado a
última "câmera de monitoramento". É no ateísmo que o indivíduo pode
testar plenamente (com 100% de certeza) seus valores morais. Ele está 100%
sozinho, sem pessoas em volta, sem câmeras, sem espíritos o observando e sem um
Deus atento à sua conduta. Assim, quando um ateu "escolhe" fazer algo
baseado em seus próprios valores morais, o está fazendo única e exclusivamente
por ele mesmo, sendo ele próprio o único observador de sua conduta, buscando a
aprovação apenas de sua própria consciência. E isso, meus amigos, este tipo de
resultado, neste tipo de situação, representa a "verdadeira moral",
no sentido mais belo e poético que esta palavra nos permite inferir. Uma beleza
especial, singular, única, flagrada e contemplada em sua plenitude, numa
situação que apenas o ateísmo é capaz de possibilitar. O ateísmo nada consola e
nada significa, é bem verdade! Não há nele nenhum valor em si mesmo. Não é
sequer uma tentativa de visão de mundo! O ateísmo, porém, (falando, agora, em
primeira pessoa) me permite conhecer verdadeiramente os meus valores morais:
aquilo que eu faria sem que "absolutamente" ninguém esteja observando
(nem mesmo um suposto Deus!)”.
Lida a jóia
acima, só resta-me mandar uma CHUVA DE PÉTALAS ao Fernando Tomazzi através de
meu blog e a coluna ATIRANDO PEDRAS E PÉTALAS. VÃO PÉTALAS, LÓGICO!
www.pedrohugocavallari.blogspot.com
Ficou linda essa matéria! Quando fiz a matéria fui presenteado com uma improvável combinação de 3 ingredientes: 1) inspiração, meio que na sorte (acaso positivo); 2) ter conhecido e entendido conceitos filosóficos que tive contato; 3) dedicação para elaborar o texto da melhor forma possível (de fácil entendimento, de leve erudição e com um toque poético).
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