domingo, 18 de dezembro de 2016

DEUS AINDA EXISTE, POR ENQUANTO


DEUS AINDA EXISTE, POR ENQUANTO
Fernando Thomazi, em brilhante artigo publicado no jornal O SERRA-NEGRENSE, confronta religiosidade e ateísmo, separa ética da moral, e faz colocações imperdíveis, que quero aqui destacar o principal conteúdo. A seguir transcrevo literalmente maior parte desta sua inspirada obra literária: “...religioso que estiver lendo esta matéria, que tente perceber junto comigo, nas linhas que se seguem, e sem querer parecer arrogante ou menosprezar a religião nesse aspecto, um tipo de "beleza" exclusiva do ateísmo! Antes, terei de esboçar aqui as linhas gerais de dois importantes conceitos da filosofia clássica: ética e moral. Ética, numa definição livre minha, é o conjunto de códigos e valores de um indivíduo voltado a facilitar o convívio em sociedade. Na ética, ao ser tomada uma decisão, sempre é considerado "quem" essa decisão irá afetar e como a sociedade reagirá a essa conduta. Moral, por sua vez, é o conjunto de valores particulares do indivíduo, que independe de Lei, circuito de câmeras, testemunhas, etc. Em outras palavras, ética é o que se faz (ou se deixa de fazer) por constrangimento externo, (uma Lei que determina, pessoas observando, câmeras monitorando, etc) enquanto que moral é o que se faz (ou se deixa de fazer) por iniciativa pessoal. Para perceber quais são seus próprios valores morais, basta perguntar-se: o que eu faria se fosse invisível? Alguns exemplos: ser vegano é um valor moral. Não há Lei que obrigue o vegano a "não comer carne", por exemplo. Praticamente ninguém irá criticá-lo se o fizer e, na prática, comer carne é até socialmente aprovado e incentivado pela imensa maioria. Logo, mesmo tendo total liberdade para isso, mesmo que ninguém esteja olhando, ou mesmo se ele fosse "invisível", um vegano escolheria "não comer animais", porque este é um valor "moral" dele. Porque ao vegano basta-lhe ser o único expectador de seus próprios atos, sendo "ele" quem terá de conviver com a lembrança de seus atos pelo resto da vida. Se você homem, (ou lésbica) ao se imaginar invisível, percebe nesta condição a oportunidade de visitar "vestiários femininos", então, claramente essa conduta não é um valor "moral" para você. Pois, é algo que você se permitiria fazer se fosse "invisível". E se não o faz será por uma mera motivação "ética" (constrangimento externo, para manter a ordem social). Esclarecidos esses dois conceitos, veremos agora onde o ateísmo se encaixa nessa história e onde, de fato, ele é belo. Se você escolhe praticar um ato de bondade ou deixar de fazer algo prejudicial a terceiros, mesmo que esteja sozinho, sem ninguém olhando, sem câmeras, "invisível", sem o risco de ser pego em seguida... Mas, se, apesar de tudo isso, você "acredita em Deus" (ou alguma entidade espiritual que O equivalha) então, este "Deus" representa o último "constrangimento" que o impede de testar plenamente (com 100% de certeza) seus valores morais. Pois, perceba que, mesmo sem o risco de punição ou gratificação por parte de "pessoas", você ainda acreditará estar sendo "observado" por uma "câmera invisível" (Deus) monitorando sua conduta e pronto a puni-lo ou premiá-lo dependendo do que você fizer. Mas, se você é um ateu na mesma condição de "invisibilidade", então você terá eliminado a última "câmera de monitoramento". É no ateísmo que o indivíduo pode testar plenamente (com 100% de certeza) seus valores morais. Ele está 100% sozinho, sem pessoas em volta, sem câmeras, sem espíritos o observando e sem um Deus atento à sua conduta. Assim, quando um ateu "escolhe" fazer algo baseado em seus próprios valores morais, o está fazendo única e exclusivamente por ele mesmo, sendo ele próprio o único observador de sua conduta, buscando a aprovação apenas de sua própria consciência. E isso, meus amigos, este tipo de resultado, neste tipo de situação, representa a "verdadeira moral", no sentido mais belo e poético que esta palavra nos permite inferir. Uma beleza especial, singular, única, flagrada e contemplada em sua plenitude, numa situação que apenas o ateísmo é capaz de possibilitar. O ateísmo nada consola e nada significa, é bem verdade! Não há nele nenhum valor em si mesmo. Não é sequer uma tentativa de visão de mundo! O ateísmo, porém, (falando, agora, em primeira pessoa) me permite conhecer verdadeiramente os meus valores morais: aquilo que eu faria sem que "absolutamente" ninguém esteja observando (nem mesmo um suposto Deus!)”.

Lida a jóia acima, só resta-me mandar uma CHUVA DE PÉTALAS ao Fernando Tomazzi através de meu blog e a coluna ATIRANDO PEDRAS E PÉTALAS. VÃO PÉTALAS, LÓGICO!
www.pedrohugocavallari.blogspot.com



Um comentário:

  1. Ficou linda essa matéria! Quando fiz a matéria fui presenteado com uma improvável combinação de 3 ingredientes: 1) inspiração, meio que na sorte (acaso positivo); 2) ter conhecido e entendido conceitos filosóficos que tive contato; 3) dedicação para elaborar o texto da melhor forma possível (de fácil entendimento, de leve erudição e com um toque poético).

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