quinta-feira, 2 de abril de 2015

VOCÊ É CONTRA TATUAGENS, PAPAI?


VOCÊ É CONTRA TATUAGENS, PAPAI?
Perguntou-me meu filho beirando 20 anos. Eu pensei, pensei e respondi assim: Não sou contra não, filho. Eu tenho tatuagens, só que são naturais. Meu filho regalou os olhos e fez cara de quem não estava entendendo nada. Eu continuei: quem, igual eu conta com 50 anos ou mais, viveu época em que maioria dos brinquedos era feita pelos próprios usuários. Desta maneira eu carrego em braços, pernas e pés as tatuagens obtidas com instrumentos necessários na produção de meus brinquedos. Estendi meu braço esquerdo e mostrei-lhe uma cicatriz produzida por uma faca na palma de minha mão, quando garoto fazia meu cavalinho de pau com cana verde de milho. Meu filho interessou-se e até apalpou minha cicatriz e continuei: custaram-me uns pontos sem anestesia muito doloridos, que depois de cicatrizados, formaram este desenho que lembra uma centopeia. Parece uma tatuagem, não é verdade? Mas apesar da dor do corte eu cavalguei feliz por quintais e terreiros no meu cavalinho criado e produzido por mim naquela infância distante. Também fazia arapucas, gaiolas, carrinhos com rodas de madeira para descer pelos morros abaixo, bolas de meias para jogar peladas de futebol e muito mais. Só bolinhas de gude eram compradas nas vendinhas do lugar. Em seguida mostrei ao meu filho no dorso da mão direita uma queimadura que parece um sol tatuado por um mestre em tatuagem, mas que foi fruto de caçada aos balões que voavam pelos céus naqueles invernos distantes em festas juninas. Mas outras tatuagens foram-nos feitas por nossos pais em nossa infância que causaram pequenos incômodos, mas seus efeitos se demonstraram benéficos para toda nossa existência. A mão de minha mãe ficou tatuada numa de minhas nádegas quando desrespeitei minha professora. O pé direito de meu pai também ficou impresso no meu traseiro no dia que eu estava judiando de uma gata causando alto estresse ao bichano. Minhas costas ostentou desenho de uma varinha de marmelo quando meu vizinho reclamou devolução de um brinquedo que eu havia tomado dele. Estas tatuagens desapareceram em horas ou no máximo um dia, mas os bons resultados duram até hoje, pois elas me ensinaram a respeitar professores e os mais velhos, a não furtar e roubar, a proteger a fauna e a flora e viver em harmonia com nosso planeta e o universo.
Meu filho apenas comentou: “Acho que hoje em dia muitos fazem tatuagens porque foram privados destas educativas que seus pais não lhe pintaram na infância e agora saíram de uso. Vou abrir mão deste modismo. Entendi sua mensagem”.
* Pedro Hugo é Advogado/comerciante.
www.pedrohugocavallari.blogspot.com

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