VOCÊ É
CONTRA TATUAGENS, PAPAI?
Perguntou-me
meu filho beirando 20 anos. Eu pensei, pensei e respondi assim: Não sou contra
não, filho. Eu tenho tatuagens, só que são naturais. Meu filho regalou os olhos
e fez cara de quem não estava entendendo nada. Eu continuei: quem, igual eu
conta com 50 anos ou mais, viveu época em que maioria dos brinquedos era feita
pelos próprios usuários. Desta maneira eu carrego em braços, pernas e pés as
tatuagens obtidas com instrumentos necessários na produção de meus brinquedos.
Estendi meu braço esquerdo e mostrei-lhe uma cicatriz produzida por uma faca na
palma de minha mão, quando garoto fazia meu cavalinho de pau com cana verde de
milho. Meu filho interessou-se e até apalpou minha cicatriz e continuei:
custaram-me uns pontos sem anestesia muito doloridos, que depois de
cicatrizados, formaram este desenho que lembra uma centopeia. Parece uma tatuagem,
não é verdade? Mas apesar da dor do corte eu cavalguei feliz por quintais e
terreiros no meu cavalinho criado e produzido por mim naquela infância distante.
Também fazia arapucas, gaiolas, carrinhos com rodas de madeira para descer
pelos morros abaixo, bolas de meias para jogar peladas de futebol e muito mais.
Só bolinhas de gude eram compradas nas vendinhas do lugar. Em seguida mostrei
ao meu filho no dorso da mão direita uma queimadura que parece um sol tatuado
por um mestre em tatuagem, mas que foi fruto de caçada aos balões que voavam
pelos céus naqueles invernos distantes em festas juninas. Mas outras tatuagens foram-nos
feitas por nossos pais em nossa infância que causaram pequenos incômodos, mas
seus efeitos se demonstraram benéficos para toda nossa existência. A mão de
minha mãe ficou tatuada numa de minhas nádegas quando desrespeitei minha
professora. O pé direito de meu pai também ficou impresso no meu traseiro no
dia que eu estava judiando de uma gata causando alto estresse ao bichano.
Minhas costas ostentou desenho de uma varinha de marmelo quando meu vizinho
reclamou devolução de um brinquedo que eu havia tomado dele. Estas tatuagens
desapareceram em horas ou no máximo um dia, mas os bons resultados duram até
hoje, pois elas me ensinaram a respeitar professores e os mais velhos, a não
furtar e roubar, a proteger a fauna e a flora e viver em harmonia com nosso planeta
e o universo.
Meu filho
apenas comentou: “Acho que hoje em dia muitos fazem tatuagens porque foram
privados destas educativas que seus pais não lhe pintaram na infância e agora saíram
de uso. Vou abrir mão deste modismo. Entendi sua mensagem”.
* Pedro Hugo
é Advogado/comerciante.
www.pedrohugocavallari.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário