DIA DO VIZINHO
Eu tenho doces recordações de meus
vizinhos durante minha distante infância no sítio. Todos vizinhos se
comportavam como bombeiros, sempre atentos em socorrer uns aos outros e ajudar
numa emergência. Todos se conheciam por nome ou apelido e gentilezas corriam
soltas na pequena Ibitiura de Minas. Havia sempre compartilhamento de produtos
agropecuários entre todos, assim, ninguém saboreava um porco gordo sozinho.
Aquele que abatia um fornecedor de proteína mandava um bom prato de carne crua ainda
quente aos vizinhos mais próximos. Eu criança fazia o papel do sedex levando um
bom bocado para a vizinhança e voltava no mínimo com alguns ovos caipiras no
vasilhame em agradecimento. Raramente a vizinha pedia mil desculpas por não ter
nada para devolver na nossa travessa, agora lavada e enxugada por ela. Da mesma
forma agia minha mãe quando agraciada com algum presente de vizinhos; o que
houvesse disponível em nossa casa de produto do sítio era enviado no vasilhame
do doador em forma de gratidão. Quando
sitiantes estavam em apuros com alguma colheita agrícola, eram promovidos os
famosos mutirões, em que todos corriam em socorro graciosamente, contando
apenas com uma marmita de comida no almoço fornecida pelo promotor do evento.
Era constante a doação de açúcar ou porção de pó de café aos surpreendidos com
falta dos produtos. Ninguém ficava sem a “boca
de pito”, como era chamado o cafezinho. Algum produtor de fumo da região promovia
a chamada ”Destala”, que mais parecia uma festa reunindo dezena de homens e
mulheres, que em rapidez mágica retiravam o talo das folhas de fumo formando
pequenas pilhas bem organizadas, que depois eram enroladas na artesanal feitura
do fumo de rolo. Tudo era feito na amizade e com alegria.
Os grandes centros urbanos
ocasionaram uma grande mudança de comportamento entre vizinhos diante da
concentração em condomínios de apartamentos ou ruas. Os vizinhos hoje no mínimo
se ignoram, quando não convivem em pequenas desavenças ou até guerra declarada.
Grande parte não sabe nos dias de hoje os nomes, muito menos profissão de
vizinhos de porta de apartamento ou residente em casa vizinha. A grande maioria
se porta como concorrentes por espaço, ao invés de se achar pessoas que têm o
mesmo bom gosto ao morar no mesmo bairro, rua, condomínio e cidade. Moradores quase que só cultivam
convivência de garagem e elevador e se olham como potenciais perturbadores de
sua tranqüilidade e sossego. De fato
Vizinhança é à primeira vista uma convivência forçada. No condomínio as pessoas
compartilham barulhos, filhos adolescentes, festas, doenças e coisas íntimas
são vazadas aos fofoqueiros de plantão. E pessoas são diferentes, umas mais
afáveis e prestativas e outras rudes e difíceis de serem suportadas. Aí é
preciso que os ponderados e inteligentes se conscientizem que é melhor fazer o
possível para entender os agressores e enviar gentilezas, ao invés de abrir
guerra. A convivência por vizinhança tende a ser duradoura, às vezes até o fim
da vida. Melhor então fazer tudo que estiver ao alcance para haver o máximo de
amizade no convívio. Até o casamento entre pessoas que se amam podem acabar
durante a lua de mel, caso os amantes não passem por cima das diferenças entre
si. A compreensão e esforço em entender
as subjetividades alheias entre os vizinhos são fundamentais para uma feliz
vizinhança. Cabe aos mais sábios
desarmarem os agressivos condôminos mandando balas, mas de mel, ou flores.
Esta pandemia Covid-19 demonstra como é importante e saudável o alegre convívio
com vizinhos e amigos, quando é possível. Estamos
todos ávidos em tirar as máscaras e de nos juntarmos em festas e churrascos.
Para isso precisamos de amigos vizinhos e amigos distantes.
Quando comecei escrever sobre este
tema pensei sugerir a criação do DIA DO
VIZINHO para ser fortemente comemorado a nível nacional e até mundial. Fui
pesquisar e constatei que existem já duas datas disputando esta homenagem, que
eu nunca havia ouvido falar de sua existência.
Consta que o DIA DO VIZINHO é comemorado nos dias 23 de dezembro e no
dia 20 de agosto. Dia 23 de dezembro não se sabe o motivo, mas 20 de agosto é
em homenagem ao nascimento da poetisa CORA CORALINA. Fica, no entanto, minha
sugestão de oficializar uma data, seja qual for ela, para dar um impulso na
melhora das relações dos vizinhos em geral. Com certeza, se desenvolver-se o
costume de trocar lembranças em DIA DO VIZINHO, por pequenas e simples que
sejam, haverá imensa melhoria nesta relação hoje tão fraca e tumultuada. Família unida numa vizinhança saudável faz
bem para a saúde de todos.
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