sexta-feira, 21 de julho de 2017

DEUS NÃO ME DEVE NADA E NEM EU A ELE


          DEUS NÃO ME DEVE NADA E NEM EU A ELE
Sou bastante feliz pelo que a natureza me proporcionou sob qualquer tipo de avaliação, seja física ou mental. Sou grato a todos meus valentes antepassados, pais, avós, bisavós, mamãe áfrica, até chegar aos primeiros seres da sopa quente há milhões de anos atrás, onde iniciou a vida dos primeiros organismos evolutivos. A nossa existência é fruto de uma interminável regressão no passado, em que um elo apenas que tivesse rompido, teria eliminado a chance da existência de cada um de nós. Se meu avô houvesse morrido no navio que o trouxe da Itália para o Brasil em 1889, meu pai não teria sido gerado em Vargem Grande do Sul e eu não estaria aqui escrevendo esta crônica. Se meu pai houvesse optado em ser sacerdote católico ou minha mãe freira, aqui não estaria eu. Então, nossa existência é o mais espetacular golpe de sorte conhecido. A vida já vale a pena só pelo fato de ver a aurora ou o por do sol. Devemos louvar e honrar o esforço de nossos antepassados, que viabilizaram conhecermos a luz do sol. O que esperavam de nós é que tivéssemos uma vida útil e o máximo feliz. Eu nasci em simples cama amaciada por colchão confeccionado artesanalmente por minha mãe, que utilizou palhas secas das espigas de milho para recheá-lo, e com travesseiros amaciados por penas de galinhas. Ajudou minha mãe a me trazer à luz uma parteira analfabeta, que percorria o município ao lombo de um cavalo, mas chegava sempre a tempo para os trabalhos de parto.
Apesar da precariedade que a vida no sítio nos proporcionava, busquei todas as formas de melhor sobrevivência e desenvolvimento, contando apenas com ajuda de meus pais, enquanto criança, e depois pelo trabalho e esforço pessoal por anos a fio. Concluída a quarta série, não havendo onde estudar na pequena Ibitiura de Minas, convidado por um amigo de infância, eu segui seus passos rumo a um seminário, onde obtive bom aprendizado por quatro anos. Saí fora do seminário na metade do ano letivo da oitava série fugindo de um sacerdote professor que quis acrescentar aula sexual prática no meu currículo. Ele queria que durante a obrigatória confissão de pecados, eu garoto, sentasse-me em seu colo, literalmente. Sugeriu que eu, ao invés de usar outra cadeira, me colocasse sentado em sua coxa esquerda, enquanto contasse-lhe minhas costumeiras masturbações e outros pecadinhos. O suposto credenciado a perdoar meus leves pecados queria acrescentar pecados mais graves na minha coleção, naquela tentativa que fez de sedução de menor, em ato de pedofilia. Será que ele acreditava mesmo que existe inferno? Duvido. Se ele era um representante de seu deus, seu deus me deve muitas desculpas e explicações. Nunca mais me confessei e matei todas as “aulas” que ele gostaria de me ministrar. Se aos 13 anos de idade meu cérebro já não aceitava os ilógicos ensinamentos religiosos que ali eram difundidos, imaginem após o que acabei de narrar. Mas, naqueles poucos anos recebi uma boa carga de cultura geral. Por tudo o que lá vi e assisti, eu entendo que o celibato de padres católicos tem um objetivo sórdido e maquiavélico. Qual? Objetivo é de que qualquer membro da igreja não tenha filhos e mulheres, que geram despesas,preocupações e principalmente problemas de herança. Relações entre homens não geram filhos e conseqüentes gastos onerosos, sobrando mais dinheiro para a igreja de Pedro.
Saindo daquele mundo artificial e caindo no mundo normal, feliz segui minha labuta por anos a fio numa adolescência estressante, indo do trabalho para as escolas, com recursos escassos para sobrevivência, mas felizmente na condição de hétero masculino. Em qualquer situação que passei jamais pedi auxilio a algum ser invisível, e apenas em poucas ocasiões me vali de amigos visíveis e verdadeiros. Ao invés de ficar de joelhos rezando, caminhei firme em busca de soluções para os problemas do cotidiano. Jamais esperei por milagres de qualquer origem ou credo, respeitando a lei da natureza e da ciência, o quê nos tira da imobilidade e faz-nos assumir nossos destinos, ao invés de entregar covardemente nossas obrigações para as mãos de algum ser de existência duvidosa. A frase milhões de vezes repetidas mundo a fora “entreguei a deus” jamais saiu de minha boca ou mesmo do meu pensamento. Nunca transferi meus desafios para nenhum dos deuses conhecidos ou desconhecidos. Então nada devo a eles também. Só devo ao cartão de crédito por curto espaço de tempo. Sou dono do meu destino e do presente que a natureza me deu, minha vida. Sou dono de mim, enquanto meu cérebro possuir neurônios sadios e ativos.  WWW.pedrohugocavallari.blogspot.com


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