DEUS NÃO ME DEVE NADA
E NEM EU A ELE
Sou bastante
feliz pelo que a natureza me proporcionou sob qualquer tipo de avaliação, seja
física ou mental. Sou grato a todos meus valentes antepassados, pais, avós,
bisavós, mamãe áfrica, até chegar aos primeiros seres da sopa quente há milhões
de anos atrás, onde iniciou a vida dos primeiros organismos evolutivos. A nossa
existência é fruto de uma interminável regressão no passado, em que um elo
apenas que tivesse rompido, teria eliminado a chance da existência de cada um
de nós. Se meu avô houvesse morrido no navio que o trouxe da Itália para o
Brasil em 1889, meu pai não teria sido gerado em Vargem Grande do Sul e eu não estaria
aqui escrevendo esta crônica. Se meu pai houvesse optado em ser sacerdote
católico ou minha mãe freira, aqui não estaria eu. Então, nossa existência é o
mais espetacular golpe de sorte conhecido. A vida já vale a pena só pelo fato
de ver a aurora ou o por do sol. Devemos louvar e honrar o esforço de nossos
antepassados, que viabilizaram conhecermos a luz do sol. O que esperavam de nós
é que tivéssemos uma vida útil e o máximo feliz. Eu nasci em simples cama amaciada
por colchão confeccionado artesanalmente por minha mãe, que utilizou palhas
secas das espigas de milho para recheá-lo, e com travesseiros amaciados por
penas de galinhas. Ajudou minha mãe a me trazer à luz uma parteira analfabeta,
que percorria o município ao lombo de um cavalo, mas chegava sempre a tempo
para os trabalhos de parto.
Apesar da
precariedade que a vida no sítio nos proporcionava, busquei todas as formas de
melhor sobrevivência e desenvolvimento, contando apenas com ajuda de meus pais,
enquanto criança, e depois pelo trabalho e esforço pessoal por anos a fio. Concluída
a quarta série, não havendo onde estudar na pequena Ibitiura de Minas, convidado
por um amigo de infância, eu segui seus passos rumo a um seminário, onde obtive
bom aprendizado por quatro anos. Saí fora do seminário na metade do ano letivo
da oitava série fugindo de um sacerdote professor que quis acrescentar aula
sexual prática no meu currículo. Ele queria que durante a obrigatória confissão
de pecados, eu garoto, sentasse-me em seu colo, literalmente. Sugeriu que eu,
ao invés de usar outra cadeira, me colocasse sentado em sua coxa esquerda,
enquanto contasse-lhe minhas costumeiras masturbações e outros pecadinhos. O
suposto credenciado a perdoar meus leves pecados queria acrescentar pecados
mais graves na minha coleção, naquela tentativa que fez de sedução de menor, em
ato de pedofilia. Será que ele acreditava mesmo que existe inferno? Duvido. Se
ele era um representante de seu deus, seu deus me deve muitas desculpas e explicações.
Nunca mais me confessei e matei todas as “aulas” que ele gostaria de me
ministrar. Se aos 13 anos de idade meu cérebro já não aceitava os ilógicos
ensinamentos religiosos que ali eram difundidos, imaginem após o que acabei de
narrar. Mas, naqueles poucos anos recebi uma boa carga de cultura geral. Por
tudo o que lá vi e assisti, eu entendo que o celibato de padres católicos tem
um objetivo sórdido e maquiavélico. Qual? Objetivo é de que qualquer membro da
igreja não tenha filhos e mulheres, que geram despesas,preocupações e
principalmente problemas de herança. Relações entre homens não geram filhos e
conseqüentes gastos onerosos, sobrando mais dinheiro para a igreja de Pedro.
Saindo
daquele mundo artificial e caindo no mundo normal, feliz segui minha labuta por
anos a fio numa adolescência estressante, indo do trabalho para as escolas, com
recursos escassos para sobrevivência, mas felizmente na condição de hétero
masculino. Em qualquer situação que passei jamais pedi auxilio a algum ser
invisível, e apenas em poucas ocasiões me vali de amigos visíveis e
verdadeiros. Ao invés de ficar de joelhos rezando, caminhei firme em busca de
soluções para os problemas do cotidiano. Jamais esperei por milagres de
qualquer origem ou credo, respeitando a lei da natureza e da ciência, o quê nos
tira da imobilidade e faz-nos assumir nossos destinos, ao invés de entregar
covardemente nossas obrigações para as mãos de algum ser de existência
duvidosa. A frase milhões de vezes repetidas mundo a fora “entreguei a deus” jamais saiu de minha boca ou mesmo
do meu pensamento. Nunca transferi meus desafios para nenhum dos deuses
conhecidos ou desconhecidos. Então nada devo a eles também. Só devo ao cartão
de crédito por curto espaço de tempo. Sou dono do meu destino e do presente que
a natureza me deu, minha vida. Sou dono de mim,
enquanto meu cérebro possuir neurônios sadios e ativos. WWW.pedrohugocavallari.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário