POMBOS CONTRA CORUJAS DE GESSO

Pedro Hugo

“Atirando pedras e pétalas”

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“COISAS DA VIDA”

POMBOS CONTRA CORUJAS DE GESSO

Numa reportagem de televisão regional foi dado destaque a uma matança de pombos indesejáveis numa cidade paulista através de veneno distribuído às aves por um desconhecido.

Na reportagem sensacionalista da famosa TV uma senhora ambientalista fanática deu entrevista deplorando a ação “criminosa” e no final afirma que existe uma solução fácil e segura para afastar os pombos, que me chamou a atenção e desejei que fosse verdade. Ela disse que corujas reproduzidas em cerâmica ou gesso, se colocadas nos telhados ou lugares em que os pombos aninham-se, afastaria os indesejáveis, não havendo, portanto, necessidade de assassiná-los, visto que corujas são predadores temidos dos pombos.

Por coincidência eu estava enfrentando no exato momento grandes perturbações pelos pombos numerosos em nosso bairro. De noite eles aninham-se nas calhas descendentes protegidas pelos beirais do telhado da nossa casa. Suas fezes descem borrando as paredes pintadas de novas, e, todas as manhãs nossa empregada precisava empregar produtos de limpeza e força para remover os diversos pontos borrados dos ladrilhos do quintal.

Aquela senhora do telejornal falou com tanta convicção que corujas de mentira poderiam afastar os borradores e grafiteiros alados, que passei a procurar em lojas de Serra Negra corujas em tamanho natural. Não custava muito tentar esta solução tão humana. Mas em Serra Negra não encontrei réplicas aproveitáveis. Contudo há um ano, em visita a Poços de Caldas eu havia dado uma coruja de gesso de presente á minha esposa, que sempre foi admiradora da espécie. Achei que não devia expor a coruja presenteada a algum perigo no teste de espantar pombos. Aguardei uma semana e achei uma manhã disponível e me dirigi até a cidade de Pedreiras com muita esperança em caçar corujas espantalhos. Depois de alguma procura encontrei uma que demonstrava ser predadora cruel. Fechei negócio. Rodei por todo o centro comercial da cidade, mas não encontrei mais nenhuma no porte desejado.

Com aquela única adquirida pensei então juntar a da minha esposa para fazer um teste em espantar os hóspedes noturnos. Voltei cheio de esperança para minha Serra Negra. Ainda haveria o problema sério de subir ao telhado altíssimo da casa assobradada de três andares para instalar os predadores. Poderia ter vertigem e cair lá de cima e jamais saberia se corujas espantalhos vencem os pombos. Mas no dia seguinte pela manhã consegui instalar as duas corujas de gesso a um metro abaixo do lugar preferido de dois casais de pombos. As corujas na cor cinza olhavam fixamente para frente de forma ameaçadora, mas imóveis logicamente. Aguardei ansiosamente o dia todo aquele por do sol e anoitecer. Das 17 horas em diante postei-me estrategicamente na sacada e passei a observar a movimentação dos pombos. Logo os hóspedes começaram a rodear. Primeiro pousaram no telhado do vizinho e olharam em direção ao abrigo costumeiro na minha casa. A penumbra vai tomando conta de tudo e minhas corujas encaravam os quatro pombos como que dizendo aquele refrão “ai se eu te pego”. Então ouço o bater de asas do casal de pombos. Eles vão, sem pedir licença às corujas, direto para a calha logo acima da primeira guardiã. Logo em seguida o outro casal aninha-se também na calha vizinha acima da outra coruja gessada.

Não me senti um otário. Fiquei tranqüilo diante de tanto esforço que empreguei em fazer coisa tão ecologicamente perfeita.

Liguei para minha esposa que ainda não havia retornado do trabalho e relatei o ocorrido e agradeci o empréstimo da coruja dela, presente meu. Eu disse-lhe que sua coruja estava sã e salva e que no dia seguinte removeria do perigo em que ela achava-se. Brinquei dizendo que sua coruja não era valente o suficiente para afastar os pombos.

No dia seguinte de manhã fui verificar tudo e saber se algo havia mudado. Nossa empregada já havia chegado e contei a ela que não funcionou minha tentativa de diminuir o serviço dela. Fui com ela certificar o que ocorreu durante aquela noite.

Ela olhou o chão que limpava todos os dias e viu que nada havia mudado. Placas de esterco pombal estavam ali para serem removidas. Com sorriso irônico, fez-me olhar para cima e disse:- Trabalho dobrado hoje. Veja a situação das corujas lá penduradas!

Caí numa risada gostosa... As corujas estavam irreconhecíveis pelas fezes que os pombos haviam lançado sobre elas naquela noite.

Comecei a imaginar: Será que aquela ecologista possui loja ou fábrica de corujas de gesso?...

As corujas desapareceram das lojas da região, mas os pombos voam livres enfezando as cidades do circuito das águas.

EPÍLOGO: Resolvi meu problema com dois copos de água e estrondos de palmadas no mesmo dia do fracasso das corujas. Quando no escurecer voltaram os pombos, das janelas e sacadas os ataquei com copos de água e palmas estridentes. Os pombos voaram na escuridão e não regressaram mais naquele dia e dias seguintes. Reconheceram meu cavalheirismo e devem ter arrumado outro abrigo. Então é assim, “espantando é que agente entende-se”. Ah! A coruja de minha esposa? Depois de um bom banho, passa bem... Obrigado! Ela ganhou uma companheira e passam o dia trocando olhares platônicos.