Pedro Hugo
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Se você já foi explorado e usado por pessoa desonesta e sem escrúpulo, leia:
O CAVALO E O CARRAPATO
Fábula de PEDRO HUGO
O cavalo vinha já por alguns dias sentindo algo estranho em sua orelha direita, mais precisamente uma espécie de coceira, que aumentava dia a dia.
Ele sacudia, sacudia, mas não se livrava do intruso, até que certa manhã ouviu uma voz bem dentro de sua orelha:
- Psiu! Sr. cavalo! Psiu! Sr. cavalo!
O cavalo olhou ao seu redor e lhe pareceu estar completamente só naquele espaço. Mas uma voz continuou:
- Eu estou aqui com você. Estou morando dentro de sua orelha. Eu sou um carrapato.
- Ah! Então é você, seu nojento! Não vê que está me incomodando?
- Infelizmente preciso de você, Sr. cavalo, pois seu sangue é minha única fonte de vida nesse lugar. E você deve ter tanto sangue nesse seu corpão que as poucas gotas que preciso por dia não vão lhe fazer falta nenhuma.
- Você é um grande erro da mãe natureza. Para que serve um bicho que passa toda sua vida sugando sangue de outros seres?
- não sei responder esta pergunta, disse o carrapato. Mas seu sangue é delicioso e aqui em sua orelha posso viver muito feliz e protegido de chuva, vento e o sol escaldante. Não preciso carregar ninguém nas minhas costas e fazer trabalho algum. Isso é que é vida! Sou feliz.
- Mas você, carrapato, nunca sentirá o prazer de galopar pelas campinas e saborear ervas verdes e macias de variadas espécies e sabores. Não provará nunca a delícia de beber as águas de fontes cristalinas. Mais importante ainda, nunca sentirá a sensação de uma carícia ou afago, assim como tenho eu dos meus donos. Você não pode ver seu filho correndo e corcoveando pelas pastagens ao seu lado. Eu posso.
O carrapato desprezou as considerações do cavalo retrucando:
- Nada disso me faz falta. Mesmo por que nem sei o que está falando. Não posso sentir falta do que não conheço. Não quero que me falte o seu sangue.
- Perfeito! Um parasita como você não tem prazer nenhum na vida. Apenas sabe sugar e sugar e sugar. Mas por castigo não conhece grandes prazeres que nós outros desfrutamos, como correr, trabalhar, procurar uma água fresca e criar nossos filhos. Além do mais, carrapato, você terá vida curta, e eu viverei muitos anos. Eu sou grande e forte, e você um grão de areia inútil.
O carrapato perdeu de vez o controle e vociferou:
- Você não perde por esperar, cavalo. A partir de agora vou sugar sempre maior quantidade de seu sangue e vou ficar maior que você. Sim, vou ser maior que você. E digo mais: você vai ficar fraco e morrer de anemia.
O cavalo caiu na gargalhada dizendo:
- Nunca, jamais um carrapato vira cavalo. Carrapato sempre será um ser minúsculo, independentemente do que beba ou coma. Desista desta loucura!
- Espere para ver! Disse o carrapato.
O carrapato então passou a sugar ferozmente o sangue do cavalo com toda força e vontade.
O cavalo, vendo a intenção desvairada do seu opressor, disse:
- Deixa disso! Você apenas vai inchar um pouco e vai encurtar sua vidinha efêmera.
Mas o carrapato não deu ouvidos ao cavalo e continuou sugando sempre mais do sangue abundante. E então foi ganhando peso e estufando-se acima de seus limites, até que despencou da orelha do cavalo e caiu ao chão desmaiado.
O cavalo, sentindo-se livre e sem saber direito o que havia acontecido, começou a trotar e nem se deu conta quando sua pata veio impiedosamente a esmagar seu desafiante contra o solo.
Saiu galopando feliz pela campina afora ao lado de seu potrinho enquanto relembrava o que de mais importante falara ao estúpido e ganancioso aproveitador: “Carrapato jamais será um cavalo”.
(Pedro Hugo escreve semanalmente a coluna HUMORCÊGO no jornal O Serrano).
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